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Grande descoberta! Isso toda a gente sabe! Claro que há vida antes da morte! Pois... mas é preciso saberde que vida falamos, porque há muitas formas relacionais de vida que o são nas suas características de dignidade, respeito e promoção e eestão, em grau e qualidade, a muitas léguas de distância da vida biológica. Desculpem a dureza da afirmação, mas, em vez de viver, há quem vegete - e não só por causa das doenças, é também por falhas de quem tem obrigações!

        Para entender o que está em causa, recorro a dois chavões: «a vida é um direito» | «a saúde é um direito». Não sei quem teve a ideia peregrina de iludir as pessoas com estas afirmações, porque nem a vida nem a saúde são direitos. Se o fossem, implicariam que, correlativamente, alguém tivesse o dever de as dar. Ora ninguém tem tal dever. A vida e a saúde são dons. São dádivas! Os direitos existem só depois de existirem as realidades a que eles dizem respeito! Os pais não dão a vida - somente são o instrumento para a sua transmissão; tal como não são os médicos que dão a saúde - somente colaboram para a sua conservação. Não há direito à vida: o que há é o dever de a proteger em dignidade, respeito e cuidados. Por isso, que ninguém a tire nem desrespeite. De maneira similar, o “direito” à saúde  é o dever de o Estado, os médicos, os hospitais e os serviços sociais tratarem dela quando ela falha, não quando ela não existe. A respeito da vida e da saúde não se admitem descuidos, violações, abandonos. Ora já todos interiorizámos que a vida é inviolável, por assentar no dever de a conservar. O estado deve garantir legalmente nosso direito a viver dignamente, desde a conceção até à morte natural, segundo as categorias inerentes à dignidade humana, embutidas no contexto de da justiça social, da equidade e humanismo, da liberdade e possibilidade de desenvolvimento físico, intelectual e espiritual. O estado tem obrigações para com os súbditos. Entendamo-nos, então. O nosso direito não é à vida, é à vida digna. A dignidade é a razão que justifica, é a diferença especifica que muda o dever de a respeitar em direito de a viver. É nesse contexto que, sobre a vida humana, se deve enfatizar a ética do cuidado. Infelizmente, este exercício do cuidado tem sido vítima, em várias situações, da falta do sentido transcendente da vida e também de uma visão racional e pragmática que impede a percepção total de cada homem, que é simultaneamente corpo e alma. Faz falta a aplicação de uma antropologia personalista, pelo que deve acrescentar-se à ética do cuidado a ética da responsabilidade.

Quanto mais somos conscientes da dignidade de toda a vida humana, em todas as fases e situações, tanto mais deve crescer a exigência da responsabilidade, do Estado e de cada cidadão, por ser o pressuposto de todas as relações humanas. Assim como os alimentos se tornam saborosos consoante os temperos, assim a vida. Cuidar da vida é cuidar dos temperos da vida! O sorriso é um tempero que dá leveza à existência. O otimismo afasta as nuvens da indiferença. A persistência faz com que os dias tenham um sabor inigualável. A paciência permitirá um sabor perene e multiplicará muitas e significativas realizações. Mas o sabor do viver depende do segredo guardado na interioridade e revelado em cada ato de amor solidário.

Cón. Manuel Maria in a defesa, 11 de abril - 2018    

 

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