Área Reservada

A vinte de outubro, uma superfície comercial da cidade de Beja dedicava quatro páginas da sua publicidade ao fenómeno Halloween, “doçura ou travessura”, com bruxas, máscaras, balões, morcegos, chapéus para crianças, homens e senhoras, fatos para todas as idades e feitios, vassouras, esqueletos, chocolates de marca, autocolantes e produtos de maquilhagem a condizer.

Também há uns cinco anos, uma estudante de Beja entrou no Politécnico de Lisboa. Aconselhada pela família e paróquia, participou pela primeira vez, em meados de outubro, numa reunião da pastoral universitária, tendo ficado desapontada e escandalizada com o assunto tratado: a celebração da festa do Halloween. Importada de além-Atlântico, tendo ao serviço uma poderosa e operativa máquina publicitária e comercial, vem perturbar o ambiente contido e os valores cristãos da santidade e do horizonte de vida eterna, inerentes à fé cristã, os chamados “novíssimos do homem”: morte, juízo, inferno e paraíso, que a Igreja celebra, dum modo especial, nos dias 1 e 2 de novembro. René Rémond, da Academia Francesa, um intelectual de grande prestígio, com cerca de quarenta publicações, no livro o “o Cristianismo no banco dos Réus”, analisa o fenómeno em presença, tendo em conta a realidade francesa do ano 2000: «É verdade que os dois modos de celebração se encontram em concorrência e uma pode substituir-se à outra, como receia o bispo Clermont-Ferrand. Estamos perante um fenómeno inverso daquele em que o cristianismo recuperou as práticas e os costumes pagãos da Antiguidade e os “batizou”… O culto dos mortos existia antes do cristianismo. Mas, a fé cristã recuperou-o, purificou-o através da morte e ressurreição de Cristo e deu-lhe um sentido religioso. O mesmo aconteceu com a festa de Natal, que celebra o nascimento de Jesus, retomando uma festa romana do sol invencível no solístico de inverno: aliás os hinos cristãos apresentam Cristo como o “Sol das Nações”, a luz que ilumina todos os homens…

Hoje, vivemos uma transformação cultural semelhante, mas em sentido inverso: apropriam-se do culto dos mortos na festa de todos os santos e envolvem-no em velhos costumes pré-cristãos ou não cristãos, um pouco como o Pai Natal substituiu o Menino Jesus da nossa infância. Ao lado do nosso calendário, essencialmente ritmado pleo cristianismo, outras oportunidades de celebração aparecem, algumas das quais vão perdurar, como a festa das mães ou a de S. Valentim.

E continua: “O fenómeno tem, antes, a sua origem, numa dissolução progressiva do religioso no social: a comunidade eclesial e a sociedade civil vivem em ritmos cada vez mais discordantes. Isto revela uma incontestável secularização do tempo e dos ritmos de vida[…] Impressiona-me particularmente a extinção brutal da cultura religiosa que data dos meados dos anos sessenta. No seio das sociedades cristãs ocidentais, não só da francesa, produziu-se, então, uma quebra de todo um conjunto de noções, de ideias, de valores de uma geração à seguinte. Até então, como património cultural religioso, seu conhecimento e seu reconhecimento faziam parte da cultura geral, iria mesmo dizer, dos valores comuns. Não era necessário aderir à fé da Igreja para saber o que representava o cristianismo, para reconhecer a sua importância […] Hoje a sociedade já não age assim. A Igreja encontra-se sozinha para realizar essa tarefa e por isso a sua audiência fica singularmente limitada». Conclusão: a festa do Halloween aparece à revelia do nosso calendário, tradição, cultura e prática social e cristã- Pais, educadores, avós, professores, não alimentemos este carnaval fora de tempo!   

António Aparício, Notícias de Beja (27 de outubro de 2016)


Copyright © Colégio de Nossa Senhora do Alto

Joomla Templates by Joomla-Monster.com